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No Ciclismo e no Triathlon a aerodinâmica é um termo que se fala cada vez mais e mais. Quase toda semana são lançados novos quadros, rodas, capacetes, roupas, pedais e vários outros materiais que nos fazem gastar muitos dólares e também passar vontade. Mas será que todo esse equipamento funciona mesmo ou são apenas jogadas de marketing dos fabricantes? Ou se servem apenas para os atletas profissionais ou também para nós “mortais”?

Por definição a aerodinâmica é a: “ciência que estuda os fenômenos que acompanham qualquer movimento relacionado com um corpo e o ar que o circunda”(Dicionário Online de Português). Com o surgimento dos carros e aviões a aerodinâmica passou a ganhar importância industrial, pois com menor atrito do ar os veículos poderiam se mover de forma mais rápida e também gastariam menos combustível.

Para nós e nossas biciletas a aerodinâmica se aplica exatamente da mesma forma, quanto melhor conseguirmos vencer a resistência do ar, mais rápido nos locomoveremos e também gastaremos menos energia. Existem 3 tipos de resistência que precisamos vencer para nos deslocar, a resistência de rolamento das rodas com o solo, resistência mecânica dos mecanismos que fazem a bicileta se movimentar, e a resistência do ar que representa 80% desse total.

O Tour de France de 1989 foi um marco no ciclismo quando Greg Lemond venceu a prova de 3 semanas e quase 4 mil quilômetros por apenas 8 segundos, a menor de diferença de todos os tempos. A última etapa da prova era um contra relógio de 24,5 km em que os atletas largam de forma individual e o tempo é acumulado ao tempo total da competição. Antes da última etapa Lemond estava em segundo lugar na classificação geral, 50 segundos atrás do líder Laurent Fignon, uma dos maiores ciclistas da história, que já havia vencido duas edições do Tour. Mesmo sendo uma etapa curta Lemond conseguiu bater o líder por 58 segundos na etapa e vencer o Tour por apenas 8 segundos. O que é relevante para nós nessa história é que foi a primeira vez que foi usado um clip ou aero bar em uma prova de ciclismo. Claro que não podemos atribuir a vitória apenas ao uso do equipamento, mas uma diferença tão grande em uma distância tão curta em atletas de nível tão semelhante gerou uma maior preocupação com a aerodinâmica e popularizou o uso dos aero bars.

Os testes com bicicletas em túnel de vento, que pareciam “coisa da NASA” a poucos anos atrás, hoje são realizados por todos os principais fabricantes para desenvolver seus produtos. Agrupando alguns dados disponíveis pela Specialized, Cervélo, Hed, Zipp e da revista Triathlete, podemos ter uma noção das vantagens que alguns equipamentos podem nos proporcionar. O padrão para a realização dos testes normalmente é a simulação de percorrer 40 km em 1 hora, portanto os dados são baseados nessa distância e tempo. A diferença de tempo é comparando o uso ou não de determinado equipamento.

Os números podem variar bastante de estudo para estudo, mas seguem um padrão, usei os maiores números que encontrei para melhor ilustrar. Observei dados interessantes como por exemplo: aero bars (clip) -100 a 122 segundos, skin suit (roupa aero) -120 a 134 segundos, Capacete -40 a 70 segundos, rodas de perfil alto -34 a 96 segundos. Também encontrei dados não tão convencionais como: raspar as pernas -70 segundos, raspar os braços -19 segundos e pender os cabelos com trança -14 segundos.

O local de uso das garrafas de hidratação na bicicleta também faz diferença, o melhor local seria no clip, paralela com os braços (proporciona mais vantagem que sem garrafa nenhuma), depois atrás do selim, e por último nos tubos do quadro (preferir usar no down tube e não no seat tube).

Claro que os dados são de simulações e podemos ter variações dependendo de inclinação do percurso, direção do vento, forma que o teste foi realizado, entre outras variáveis. Mas acho interessante que mesmo em velocidades baixas também se verifica benefícios usando equipamentos aerodinâmicos. Portanto se você estiver pedalando a 20 km/h também terá vantagem proporcional a sua velocidade usando uma roda de perfil alto.

Esses dados nos mostram que as melhores vantagens nem sempre são proporcionadas pelos equipamentos mais caros. O uso de uma roupa colada ao corpo pode proporcionar mais benefícios que um par de rodas novo por exemplo, ou o simples fato de raspar as pernas pode diminuir mais de 1 minuto em seu tempo de um triathlon olímpico.

Mas apesar de todos esses números, o principal ponto que devemos nos preocupar é com o posicionamento de nosso corpo em cima da bicicleta. Entre 65 a 75 % da resistência do ar no ciclismo é proveniente de nosso corpo, e apenas 25 a 35 % da bicicleta. Assim ¾ do arrasto é causado por nosso corpo, portanto quanto menor a área de contato com o vento, principalmente frontal, melhor o desempenho. O ideal seria deixar o troco o mais baixo possível, braços fechados para não deixar o peito “aberto”, e os joelhos passando próximos ao quadro. E também quanto mais magro o ciclista menos arrasto.

Mudar seu posicionamento na bike pode diminuir bastante seu tempo nas provas, mas nem sempre é um processo simples. Não basta simplesmente tirar todos os espaçadores, abaixar a cabeça e fazer força, normalmente quanto mais “aero” menos conforto. Não vou entrar em detalhes, pois acredito que cada atleta tem suas particularidades, mas alguns métodos e profissionais de Bike Fit podem indicar angulações ideais para o tronco e quadril, desta forma não prejudicando a geração de força das pernas. A mudança na posição deve ser feita de forma gradual levando em conta a relação entre conforto e performance, até que se atinja a “posição ideal”. Muitas vezes é necessário um trabalho de fortalecimento muscular, principalmente lombar e ombros, para suportar horas de esforço em uma posição “agressiva” e ainda conseguir correr bem. Não adianta nada ter um super pedal, mas não aguentar correr por causa de dor nas costas.

É importante nos preocuparmos com a aerodinâmica, pois 1 centímetro a menos na altura do guidão pode poupar segundos e até minutos valiosos. Mas não podemos generalizar e simplesmente copiar os atletas profissionais, cada um tem suas particularidades e as vezes limitações. Sempre é recomendado um trabalho integrado com seu fisioterapeuta e treinador para realizar alterações e trabalhos complementares quando necessários.

Também acho importante investir em material sim, mas não precisamos ficar neuróticos para comprar tudo que é lançado, nem sempre o que é mais caro vai te fazer mais veloz. Se você ainda não tem todos o itens “aero” (se é que alguém tem todos), pense na relação custo benefício. Com certeza uma bicicleta com rodas de carbono de perfil alto fica muito mais bonita, mas um capacete que custa menos de 20% do valor das rodas pode te dar mais benefícios. Busque o maior número possível de informações do produto que pretende comprar para saber se é adequado a suas necessidades. Uma roda fechada por exemplo, em um circuito com muitas subidas, onde a importância da gravidade é maior que a resistência do ar, pode até te atrapalhar em vez de ajudar.

Fernando Couto :: Técnico CPH Brasil