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Despedir-se nunca é fácil. No entanto, encerrar uma carreira, especialmente a de atleta profissional, não necessariamente depende de uma decisão. Pode acontecer por uma lesão insistente, por falta de resultados ou de reconhecimento financeiro ou, como foi no meu caso, pode ser simplesmente percebido.

Algumas vezes ao longo deste ano tive sinais de que talvez fosse a hora de virar a página. A segunda cirurgia do joelho, em março, me afastou dos treinos em uma fase em que estava extremamente motivada. Talvez fosse um sinal, que decidi ignorar solenemente por alguns meses insistindo na reabilitação mais rápida e completa possível.

No entanto, graças ao afastamento temporário dos treinos longos e competições, consegui colocar em prática um projeto que há algum tempo vinha sendo imaginado em parceria com meu amigo Romulo Cruz. Eventualmente, com a ajuda do nosso parceiro e desenvolvedor Allan Santos, lançamos o Flows oficialmente em Kona 2016. Também voltei a atuar como comentarista em provas, a fazer palestras e consultorias. Tive a oportunidade de participar de atividades com a escolinha de triatlo de São José, município que represento, e de começar a acompanhar de perto o desenvolvimento de duas jovens promessas do esporte. Aos poucos, essas outras atividades foram não apenas preenchendo o buraco na agenda deixado pela ausência das competições, mas exigindo cada vez mais dedicação. Em troca, pude ver como me faz bem retribuir um pouco do que o esporte fez por mim, passando um pouco da minha experiência e contribuindo com mais um canal de divulgação desse estilo de vida.

Percebi que, embora ainda ame o esporte e a competição, não consigo mais me dedicar suficientemente à profissão – não com o nível de dedicação e respeito que meus companheiros atletas, patrocinadores e organizadores de prova merecem. Por isso, encerro aqui um ciclo que começou em novembro de 2006, quando fui Campeã Mundial Amadora de 70.3 e decidi seguir este sonho.

Foram dez anos que incluíram um ano de preparação, como Sub-23, e nove anos na Elite do esporte nacional, competindo ao lado de grandes referências pessoais como Fernanda Keller, Mariana Ohata, Carla Moreno, Ana Boccanera, Sandra Soldan e, mais tarde, Vanessa Gianinni, Ariane Monticeli, Mariana Andrade, Carol Furriela, Susana Festner, Bruna Mahn e tantas outras mulheres talentosas e extremamente dedicadas. Nesse período, conquistei três títulos nacionais e um vice (empatado em pontos!), um Top-10 Mundial, uma eleição como Atleta Revelação (2008) e outra como Atleta de Longa Distância do Ano (2009) e algumas vitórias e conquistas memoráveis, como o quinto lugar na minha estreia no Ironman Brasil. Mais importante, ganhei incontáveis amigos e superei da melhor maneira possível cada um dos desafios que se colocaram no meu caminho. Embora talvez não tenha conquistado tanto quanto gostaria – ou quanto imaginava quando me lancei nessa busca –, me retiro hoje com a convicção de que dei o meu melhor, sempre, e que sou hoje uma pessoa melhor do que era quando comecei.

Gostaria de agradecer imensamente a todos os meus parceiros ao longo dessa jornada. Meus técnicos: Omar Gonzalez, ainda da natação, que foi o grande responsável pela minha permanência no esporte por tantos anos; Guilherme Prudente, que me trouxe para o triatlo e conquistou o título mundial comigo; Leandro Macedo, que me elevou ao Profissional e conquistou comigo meus melhores resultados; Rosana Merino, que me acolheu num período de transição e trabalhou comigo no período mais difícil da minha carreira, após o acidente de 2009; Guilherme Manocchio, um grande amigo com quem troquei muitas experiências durante um breve período; e Rafael Cruz “Palito”, da CPH Brasil, meu técnico desde 2014 e um dos caras que mais acreditou em mim ao longo dos anos. Meus patrocinadores, que foram poucos e praticamente permanentes: ASICS, com a qual eu fechei meu primeiro contrato ainda de muletas; Aqua Sphere, os únicos com quem eu comecei a parceria apostando em um produto que não conhecia, e que hoje não trocaria por qualquer outro; KASK Helmets, parceria que começou este ano e recentemente salvou minha vida; Agência do Atleta, Centro Winner e Della Bikes, empresas de Florianópolis e de pessoas que se tornaram grandes amigos; e Prefeitura de São José, município que eu espero continuar representando em 2017 nos JASC. Meus ortopedistas Daniel Carvalho e Dan Oizerovici e aos fisioterapeutas do Instituto Wilson Mello, na pessoa do Juliano Xidieh, Nelci Vieira e Matheus Cardoso – só eles sabem o tamanho da encrenca… Wagner Araújo e Zé Lúcio Cardim, os dois grandes responsáveis por me apresentarem ao mundo midiático. Meus companheiros de equipe, colegas de profissão, amigos de provas, parceiros eventuais de treinos, amigos que nunca fizeram esporte, mas o acompanhavam por minha causa. A todos que torceram, incentivaram, vibraram comigo. Acima de tudo, minha família, que sempre me apoiou nas minhas decisões: meus pais, meu irmão, meus avós e tios, João Gama e Lisandra Andrade. A todos vocês, meu muito obrigada.

Continuaremos a nos ver nos treinos e provas. Porque mais que uma atleta amadora, sempre serei uma amante do esporte.

Ana Lidia Borba