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Estudos sobre ciclismo e aerodinâmica não são recentes. Desde o final do século XIX, quando os ciclistas começaram a procurar velódromos em altitude para tentativas de recordes, já se sabia que a menor densidade do ar nesses locais reduzia a resistência sobre o movimento. No entanto, apesar da adoção dos guidões com drop e de estudos dos efeitos dos pelotões sobre a velocidade e performance dos ciclistas, pouca coisa mudou no esporte até os anos 70. Foi então que o lendário Eddy Merckx, o “Canibal”, visitou pela primeira vez um túnel de vento para ajustar sua posição e sua bicicleta, pouco antes de sua quebra de recorde da hora, em 1972.

Os testes em túneis de vento de baixa velocidade aos poucos se tornaram mais utilizados pelas grandes equipes e seus atletas, popularizando-se na década de 80 graças ao sucesso de nomes como Francesco Moser – que usou duas rodas fechadas, um skinsuit sob medida e o guidão virado para cima para quebrar o recorde da hora de Merckx – e, principalmente, Greg LeMond, vencedor do Tour de France de 1989 pela menor margem da história (8 segundos) ao apresentar ao mundo uma bicicleta com clipe e o capacete aero.

 

Aerodinâmica para todos

Embora tenham se tornado “acessíveis” para atletas amadores ou profissionais autônomos (leia-se triatletas), podendo custar entre US$500 e US$1.000/hora, testes em túnel de vento ainda dependem de uma grande estrutura de apoio e investimento de tempo, além de serem caros. Por isso, muitos dos resultados que hoje se vê são financiados por grandes empresas – como Specialized, ZIPP ou HED – e não necessariamente aplicáveis às reais possibilidades dos atletas. Segundo Max Leisner, ex-proprietário da Kona Bikes e estudioso do assunto, “a aerodinâmica aplicada em equipamentos de ciclismo no triathlon encaixa-se na categoria de ocultismo, não de ciência exata. Todos os dias eu escuto, leio e debato sobre o o assunto e sempre me parece que há mais mistérios do que luz nessa senda. Recentemente, no entanto, encontrei um estudo que me fez rever alguns conceitos sobre o que é – e o que não é – importante nesse campo.”

O estudo ao qual Max faz referência é mais um dos patrocinados por um gigante da indústria do ciclismo: o engenheiro responsável pelo protocolo e execução dos testes é o britânico Mark Cote, da Specialized, e as bicicletas usadas são da empresa americana. A diferença é que a Specialized produz todos os componentes aerodinâmicos conhecidos – de quadros específicos para triathlon a rodas, passando por capacetes e caramanholas – e, por isso, tem real interesse em desvendar em quais desses equipamentos pode obter maior vantagem em relação a seus concorrentes.

 

O teste

A avaliação partiu da seguinte pergunta: quanto tempo pode ser economizado, começando com uma bicicleta de estrada e acessórios tradicionais e fazendo alterações graduais até chegar a uma bicicleta de contrarrelógio, com rodas de competição e capacete aero?

O protocolo teve duas fases. Na primeira, no autódromo oval de Lowe, na Carolina do Norte, o ciclista fez um contrarrelógio de 10 milhas a 40km/h, em bicicleta de estrada, no qual registrou a potência média de 278 watts. A posição e os equipamentos do conjunto foram gradualmente substituídos e o ciclista realizou novas medições mantendo a potência inicial: primeiro, com clipe; depois, com clipe e capacete aero; na sequência, com uma bike de contrarrelógio com capacete tradicional, depois aero.

Em seguida, o teste foi replicado no túnel de vento A2, próximo do circuito oval. Desta vez, no entanto, ao invés de manter a potência em 278w, foi utilizada como constante a velocidade de 40km/h, para a qual foram medidas as potências médias aplicadas. Os resultados foram os seguintes:

Autódromo de Lowe (278W):

  • Road bike com capacete normal – 40.00km/h
  • Road bike com clipe – 41.65 km/h
  • Road bike com clipe e capacete aero – 42.25 km/h
  • TT bike com capacete normal – 42.90 km/h
  • TT bike com capacete aero – 43.50 km/h

Túnel de vento A2 (40km/h):

  • Road bike com capacete normal – 278.3 Watts
  • Road bike com clipe – 248.9 Watts
  • Road bike com clipe e capacete aero – 239.5 Watts
  • TT bike com capacete normal – 229.6 Watts
  • TT bike com capacete aero – 221.0 Watts

 

Em resumo, um bom posicionamento aerodinâmico sobre a bicicleta, obtido pela simples adição de um clipe e ajuste do ciclista por um fitter, é capaz de poupar quase 30W a 40kph, ou seja, mais da metade do que se obtém pela substituição de todo o conjunto (posição, bicicleta e capacete), que totaliza 57W. Ainda mais impressionante: o uso de bike de contra-relógio e capacete aero – assumindo-se que o ciclista tenha feito um bike fit e esteja confortável e bem posicionado – permite que o ciclista ande na mesma velocidade e com praticamente o mesmo esforço que faria em um pelotão pequeno, com economia de watts da ordem de 20% em relação a andar sozinho, apoiado no drop de um guidão tradicional. Vendo por outro ângulo: triatletas de provas sem vácuo têm free speed (ganho de velocidade) de quase 9% em relação aos da ITU, em função da permissão do uso de equipamentos aero – o que justifica a proximidade dos tempos entre provas como os 5i50 (triathlon olímpico sem vácuo da WTC) e as etapas da WTS (Série Mundial da ITU).

O benefício aerodinâmico das rodas foi testado em outra avaliação, realizada no autódromo de Lowe e no velódromo de Asheville, anteriormente. Neste estudo, demonstrou-se uma economia de aproximadamente 70 Watts, a 40km/h, entre uma bicicleta convencional com rodas de perfil baixo (~290W para manter essa velocidade) e uma de contrarrelógio com rodas HED-3 (~220W), o que representa em torno de 9seg/km – ou 24min58seg no ciclismo do Ironman. Deduzidos os watts obtidos pela utilização apenas do conjunto capacete aero e bike de contrarrelógio, concluiu-se que economia obtida pelo uso das rodas 3-spoke foi da ordem de 12 Watts.

 

Conclusões práticas

Segundo aponta Max, a primeira conclusão dos estudos sobre a aerodinâmica é que os equipamentos e ajustes de posição podem ser usados para fazer com que o ciclista ande mais rápido ou para permitir economia de energia para uma mesma velocidade. Ciclistas contra-relogistas buscam maximizar sua velocidade, enquanto triatletas, principalmente os amadores, beneficiam-se do menor desgaste durante a corrida.

Outra observação importante em relação aos testes é que os ajustes de equipamento foram acompanhados de ajustes na posição do ciclista – como exemplo, os ganhos obtidos pelo posicionamento adequado ao utilizar um clipe no guidão tradicional foram mais significativos que os demonstrados pela substituição da bicicleta de estrada pela de contra-relógio. Ou seja: para melhorar sua aerodinâmica, comece pelo básico – invista em um bom bike fit.

 

* Artigo atualizado, publicado originalmente na revista VO2 de outubro/13